sexta-feira, 29 de maio de 2009

A teia da Vida


A TEIA DA VIDA


Numa bela noite de verão acabei por esquecer a luz de meu banheiro acessa. Nada de tão alarmante assim.
Quando abri a porta dei-me conta de que vários insetos haviam entrado em meu banheiro para se divertirem com a luz. Rodavam, dançavam, bailavam em torno dela na maior festa!
Existiam vários... Das mais variadas espécies, dos mais variados tamanhos... E as cores, do preto ao lilás.
Eram mariposas, besouros, siriris, tinha de tudo um pouco. E a festa foi continuando até que resolvi que a luz deveria ser apagada, afinal devemos economizar energia e não achei muito prudente de minha parte gasta-la para patrocinar a festa dos insetos.
Apaguei a luz, desligamos a consciência e fomos todos dormir.
Acreditei eu que assim como minha família, todos os insetos ali presentes também iriam uma hora dormir, ou ir procurar outro local, mais iluminado para sua festança!
Na manhã seguinte meu filho é o primeiro ao entrar no banheiro, apertado para fazer xixi. Quando termina para estatelado no chão do banheiro, olhando atentamente para debaixo do armário:
- Mamãe!!!! O que é aquilo!?
- Aquilo o que??
- Ali mamãe bem embaixo do armário se mexendo!
Pare tudo que estava fazendo e fui ver o que estava acontecendo embaixo do tal armário do banheiro! Fiz isso completamente esquecida da festa dos insetos que havia acontecido na noite anterior!
Pois bem!!!
Havia um besouro flutuando!!! É isso mesmo, um besouro preto com suas longas antenas flutuando bem embaixo do armário do banheiro.
Por alguns instantes pensei que a lei da gravidade poderia não estar funcionando em uma pequena área do meu banheiro, foi quando resolvi olhar melhor e mais de perto!
Não. Não era nada disso. Apenas uma teia de aranha embaixo do armário que fazia com que o tal besouro flutuasse.
- Filho é um besouro e ele esta preso na teia da aranha!
Ditas estas palavras, lá vem ela, a tal dona Aranha descendo pela teia. Não era enorme, nem monstruosa, apenas uma aranha que descia lentamente por sua teia.
Em instantes vários pensamentos tomaram conta de minha mente: será que ela já o picou e ele esta assim com estes movimentos porque esta agonizando!? Será que o massacre ainda não se deu e ela desce lentamente apenas para amedrontar sua vítima!? Por quanto tempo este coitado está preso nesta teia!? Será que desde de ontem à noite!? Eu causei esta agonia a este pobre inseto, assim que apaguei as luzes do banheiro?
Todos estes pensamentos me fizeram reagir diante daquele fato! Levantei-me do chão e rapidamente, diante da pia do banheiro me coloquei a procurar um objeto que pudesse salvar aquele pobre e indefeso animal!
-Mamãe, você vai salvar ele!? Porque ele esta preso aí!
-Não sei! Acho que ontem ele acabou caindo na teia da aranha e ficando preso ai! A mamãe vai tentar salva-lo!
Não pensamos em nenhum momento na aranha que residia embaixo do armário do banheiro!
A coitada também poderia estar ali por muito mais tempo, sem sentir sequer a menor possibilidade de conseguir uma bela e apetitosa refeição, como seria aquela.
Fui com um poderoso tubo de pasta de dente nas mãos para resgatar o besouro!
Meu filho permanecia atento a tudo!
A teia era muito pegajosa e nem o peso do tudo permitia que o pobre besouro se desvencilhasse dela. Foi uma luta e tanto.
Não percebi, na hora nem me dei conta, mas acabei com o ardiloso trabalho da dona Aranha de construir sua teia, porém o tal besouro estava salvo, no chão do banheiro!
-E agora mamãe!?
-Agora ele volta para a casa dele! Vamos deixa-lo ir!
E mais do que depressa voltamos aos nossos afazeres. Fechamos a porta do banheiro e consideramos que a saga do besouro era “finita”.
Levamos a manhã como outra qualquer, as atividades, os afazeres, as brincadeiras, sequer pensamos mais no tal besouro. E menos ainda na tal aranha que por nossas e mais precisamente minhas ações, havia ficado sem refeição!
É chegada, no entanto, a hora de tomar banho, para ir à escola.
Chamei meu filho e lá vamos nós para o banho, na verdade eu, que iria prepara-lo; ligar o chuveiro, preparar a temperatura da água, verificar toalhas etc. Meu filho enquanto isso guardava seus brinquedos em seu quarto, não iria comigo ao banheiro nesta primeira etapa!
Entrei no banheiro rapidamente, para dar início a este processo denominado banho.
Fui direto em direção ao chuveiro e pisei no tapetinho que fica na porta do Box...
Quando escuto “Crec!”
Percebi imediatamente que havia pisado em alguma coisa. O que teria o Bruno deixado cair ali bem no banheiro? Algum brinquedinho... Não! Foi aí que me lembrei: o besouro.
Olhei atenta para o tapetinho e nada vi!
Mas tinha pisado em algo, que até estalou, porque quebrará obviamente!
E quanto mais procurava, menos encontrava.
Meu filho adentra no banheiro e pergunta:
-Você perdeu sua lente mamãe?
- Não! Pisei em alguma coisa, que quebrou, mas não consigo ver o que é!
Tive então a funesta idéia de verificar embaixo do tal tapete. Enquanto realizava o gesto, em minha mente parecia passar todos os programas da National Geografic, Animal Planet, Discovery... A “Vida dos besouros: Os besouros são animais que tem como hábito se emboscar embaixo de folhas, pedras, para que possam assim se defender de seus predadores.”
Lembrei-me, por segundos das aulas de biologia que diziam a mesma coisa. E com isso, fui me sentindo a pior de todas as criaturas!
Assim que terminei de erguer o tal tapetinho, lá estava o pobre besouro. Literalmente quebrado ao meio, mexendo ainda uma de suas perninhas... Agonizando em seus momentos finais.
Uma gosminha havia saído de sua barriga.
Aquele exoesqueleto, aparentemente tão forte, tão resistente, semelhante mesmo a uma armadura, havia se partido e por minha culpa!
Senti-me a pior de todas as carrascas.
Porém já nada mais poderia ser feito.
Foi quando meu filho, do alto de sua sabedoria de três anos e meio diz:
-Mamãe! Não teve jeito mesmo. Esse ai ia morrer né?
Parei por alguns instantes e pensei no que estava dizendo.
- Ele caiu na teia da dona Aranha, a gente salvou, "soltamos ele" para ir pra casa e ele veio se esconder no lugar que todo mundo pisa!Esse ia morrer mesmo!
E não é que meu filho havia conseguido compreender a teia da vida muito antes do que eu mesma!
De nada adianta ficarmos salvando aqueles que por si já estão desgraçados através de seus próprios atos. Não podemos fazer nada por eles! Em absoluto. E se o fazemos passamos a ter responsabilidade por aquilo que acabamos impedindo que a vida realizasse.
Como eu me responsabilizei pela vida do bichinho, fiquei também a partir deste momento com o amargo fato de liquida-la já que este seria seu destino para aquele dia. Eu impedi que acontecesse.
Achando que a lição de moral que havia recebido de meu filho havia terminado por ali, resolvi dar continuidade ao banho quando:
- Mamãe, já que ele morreu mesmo, porque a gente não "coloca ele" ali, perto da teia da dona Aranha!? Pelo menos ela pode aproveitar e almoçar!?
E foi o que fizemos.
Levei o Bruno para escola e quando volte a tarde, resolvi ir ver o que havia acontecido com o besouro. Será que aquela minúscula aranha iria conseguir leva-lo de volta para sua teia. Sei lá! Sempre dizem que estes animais possuem muita força, conseguem carregar o dobro de seu próprio peso etc..
Quando me coloquei a verificar o que havia acontecido, percebi que lá estava o cadáver do tal besouro no mesmo local onde deixamos. A aranha em nada se comoveu com nossa atitude. Nada fez em relação ao besouro ali no chão! Porém, uma mosca bem gordinha já estava enroladinha em sua teia. Talvez esperando o momento do jantar...
O que impressiona é como estes animais e também nossas crianças que não possuem “nosso grau de entendimento das coisas”, podem de maneira tão simples resolver as mais complexas equações da teia da vida!
Sem titubear!

Um comentário:

  1. Oi Érica, parabéns pela iniciativa, estarei sempre prestigiando suas mensagens.
    Abraços
    Elisa

    ResponderExcluir